Let them be little

Nunca pensei que um miúdo de três anos começasse já a pensar de onde é que vêm os bebés. Quando engravidei do M., o S. ainda era muito pequenino. Tinha apenas 14 meses, mas já falava quase como um adulto (o M. vai fazer 17 meses e ainda só fala "Manolês"). E ainda se lembra do meu barrigão, mesmo não tendo sequer 2 anos na altura em que o M. nasceu. Mas volta e meia pergunta onde está a minha barriga, e eu lá tenho que explicar que a barriga desapareceu quando o M. nasceu, e agora a Mãe já não tem barriga (salvo seja!).

Pois bem, achei estranho o facto de durante alguns dias o S. estar sempre a olhar para as minhas fotografias de grávida, e sempre a perguntar o mesmo. Lá fui respondendo, a dizer que os bebés vem das barrigas das mães, etc e tal.

Passado uns tempos, o S. começa a pedir para ver fotografias do Pai, por isso fui buscar os nossos álbuns antigos para lhe mostrar fotografias do Pai e da Mãe em novos, do casamento dos Pais, da vida de casados antes de os bebés nascerem, durante as gravidezes e depois da gravidez. O S., sempre muito admirado, mas muito interessado, continuava a fazer perguntas atrás de perguntas, algumas mais difíceis que outras. Até que pediu para ver o filme do nosso casamento, tendo perguntado por várias vezes, sem perceber, onde é que o S. e o M. estavam, se estava lá toda a gente menos eles!

O S. Pai e eu conhecemo-nos desde que me lembro de mim. Os nossos pais já eram amigos e por isso passámos a infância juntos, e temos fotografias que muitas pessoas acham que é montagem. Compreendo perfeitamente que seja confuso para um miúdo de 3 anos, explicar-lhe que nesta fotografia estão o Pai e a Mãe quando eram pequeninos:

 

 

Não, não são o S. e o M., são mesmo o Pai S. e a Mãe F.!
Pois, realmente não deve haver muitas histórias como esta no mundo!

 

 

 Mas mesmo que eu tente explicar ao S., ele continua muito confuso, e não desiste. Fotografia, após fotografia, mas muito mais interessado em ver fotografias do Pai do que da Mãe, eis que o meu miúdo de 3 anos me sai com esta:

- Oh Mãe, e o S., quando nasceu?

- Nasceu antes do M. Ticos, mas no mesmo hospital!

- Ah, e o Pai ficou cansado?

- O Pai? Talvez...mas quem ficou mais foi a Mãe, querido!

- Porquê Mãe?

- Porque o S. demorou muito tempo a nascer...

- Ah, Coitadinho do Pai.

- Do Pai? Da Mãe!!!

- Não Mãe, do Pai!

- Mas...começava eu.

- Oh Mãe, o Pai ficou muito tempo no hospital, e ficou com dói-dói na barriga?

- Não S....o Pai não...

- Pois - acrescenta o S. - o M. veio da barriga da Mãe, que eu lembro-me, e o S. veio da barriga do Pai! É assim não é, Mãe?

Achei de uma ternura tão grande que nem tive coragem de o desiludir, porque o S. estava absolutamente feliz com a conclusão a que tinha chegado. É justo, um filho de cada um dos Pais. Mas não é assim, porque se assim fosse, o mundo estaria prestes a acabar (os homens que me lêem que me perdoem, mas eu acho mesmo que não iriam aguentar as dores do parto!)

E explicar isto a um miúdo de 3 anos? Com tempo, hei-de lhe explicar tudo direitinho. Até lá....