sexta-feira, 1 de março de 2013

Uma lição de vida

Vou ter que partilhar a lição que a vida me deu ontem de manhã, no peditório da Cáritas em que participei, num dos centros comerciais mais concorridos da cidade do Porto. Quando me inscrevi como voluntária, avisaram-me que ia ser duro e muito difícil, que ia levar com respostas tortas, com arrogâncias, com "não te aproximes que eu nem quero saber o que vens para aí pedir..." E não vou mentir, algumas pessoas trataram-nos com muita indiferença. Mas felizmente, não foi a regra.
Digo-vos, do fundo do coração, que foi das experiências mais gratificantes que tive em toda a minha vida. Em certas ocasiões até me comovi, com a generosidade de algumas pessoas a quem nem me atrevi a pedir por achar que deveriam ser o alvo deste peditório. Cheguei, assim, à triste conclusão que quem tem menos é quem dá mais. É inacreditável, mas é a dura realidade.
Não vou dizer que nunca disse que não a quem me tenha abordado na rua para um qualquer peditório, mas juro que, a partir de ontem, vou começar a olhar para essas pessoas nos olhos, e mesmo que na altura não tenha nada para dar, vou responder sinceramente e sem pressas. Porque toda a gente tem um minuto para perder. As respostas "agora não me dá muito jeito"...ou..."estou atrasado para ir trabalhar"...não valem.
Ontem tive uma senhora que veio ter comigo e que me disse, muito emocionada: "Eu costumava dar todos os anos, mas este ano não posso mesmo...estou desempregada e vim só aqui ao supermercado comprar leite para os meus filhos." Mostrou-me o euro que tinha no bolso....Houve também quem viesse ter comigo a contribuir com o troco do pão que tinha comprado para esse dia. Apesar de ter sido com pouco, não conseguiram não contribuir para esta causa.
Mas quem mais me marcou foi um casal que aparentava ter muitas dificuldades - bastava olhar para eles - e que contribuiu com muito mais do que aquilo que poderia dar. "Este é todo o dinheiro que hoje trazemos connosco, mas é por uma boa causa..." - disseram eles. Deu-me uma vontade súbita de chorar.
Tirando uma única generosa excepção, as maiores contribuições vieram das pessoas que menos podem.
Apesar de tudo Portugal é, continua a ser, um país solidário, não haja dúvida, e nem a crise profunda em que vivemos derruba a vontade que muitas pessoas têm em ajudar e sentir-se úteis. Apenas venho alertar, a quem me lê, que não é fácil estar do outro lado, e que devemos estar atentos a quem nos rodeia, porque há muitos portugueses a passar sérias dificuldades.
Não se esqueçam de contribuir para a Cáritas durante este fim-de-semana! Não custa nada!

1 comentário:

  1. Raquel Bastos Gonçalves3 de março de 2013 às 01:31

    Foi fantástico partilhar esta experiência contigo Francisca! É uma lição de vida, de humildade. Subscrevo inteiramente tudo o que aqui referes e reitero o teu pedido: mesmo que, no momento, não possam contribuir, olhem para as pessoas que fazem voluntariado nos olhos, ofereçam um sorriso, uma palavra, mesmo que não possam ajudar. O desprezo na cara de algumas pessoas que claramente podiam e deviam contribuir contrasta com o sorriso ternurento de quem nos dava tudo o que tinha no bolso, mesmo quando ali tinham ido apenas e só para aproveitar o café grátis do ikea, que lhes faz diferença. A generosidade dos mais necessitados é realmente emocionante. Trocamos vários olhares emocionados durante a manhã e saímos com a certeza de que valeu muito a pena. Obrigada amiga, por teres participado comigo!

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