quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Empatia à primeira vista

No sábado ao fim do dia fomos, como aliás vamos sempre, e como já eu fazia em pequenina com os meus Pais e irmão, espreitar as iluminações de Natal na baixa. É o nosso programa preferido de Dezembro. Os miúdos vibram e os Pais também. Espero ainda poder fazer este ritual em família durante muitos e muitos anos. O S. estava tão, mas tão feliz que parecia que estava sonhar acordado.
Este nosso programa preferido foi precedido de um jantar cedo, num dos meus restaurantes preferidos (não encontro outra palavra para esta: preferido) da Baixa. Não está in, nem tem o ambiente trendy que se vê hoje na baixa portuense, e a sua decoração já esteve completamente démodé, mas agora já não, com este mood vintage que se vê por aí e que eu adoro (a única diferença é que os candeeiros e sofás devem mesmo ter uns 50 anos!) Decorações à parte, a cervejaria Cunha tem a melhor francesinha e sangria da cidade, e por isso eu nunca hei de deixar de lá ir.
E foi neste primeiro sábado de dezembro, que eu tive um daqueles encontros imediatos que se vê nos filmes, e que ficam na nossa memória para sempre. Estávamos na primeira mesa da sala, quando entrou um casal amoroso, nos seus 80 anos. A Senhora (fiquei depois a saber que era a Mimi) ficou logo a olhar para nós, para os meus filhos, com o ar mais ternurento do mundo. O M., que é um vendido, reparou e pôs-se logo a dizer olá e a fazer fitinhas. Não tardou nada para a Mimi se ter sentado na nossa mesa a contar a história da sua vida. Foi uma coisa tão natural, tão espontânea, que não se explica. Até o Pai S., que não é nada dessas coisas e faz cerimónia com tudo e todos já estava dentro da conversa. A Mimi também era uma Mãe orgulhosa de dois rapazes, também era a Mulher/Princesa da casa, ainda que noutros tempos. O que mais me disse foi que se lembrava dos seus filhos da idade dos meus, como se fosse ontem. E ainda mais agora que um deles já cá não está... Por isso, pediu para aproveitarmos ao máximo os nossos filhos, e toda esta fase em que eles são pequeninos e nos acompanham para todo o lado, porque quando dermos por ela, já temos 80 anos. Isto dá-se num abrir e fechar de olhos.
Quando olhamos para uma pessoa mais velha, muita vezes esquecemo-nos que já teve a nossa idade, que tem muitas histórias giras para contar, que sabe muito mais do que nós, que tem uma experiência de vida cheia de marcas, boas e más. E que um dia, se Deus quiser, também vamos ser assim. Eu tenho a maior admiração por pessoas mais velhas. E a Mimi vai ficar para sempre no meu coração. Em dez minutos de conversa, sinto por ela uma enorme gratidão por me ter dado uma lição de vida. Saí da Cunha com um nó na garganta e uma vontade louca de chorar, porque me fez lembrar os meus Avós e a falta que os seus ensinamentos me fazem. Com certeza que o mimo e o carinho que a Mimi nos deu também foi porque viu em nós um pouco da vida que teve, e deve ter sido invadida por uma nostalgia fortíssima. Via-se nos olhos da Mimi que estava emocionada com tudo aquilo.
Tive que partilhar este episódio da minha vida, pois a vida sem estes encontros imediatos, estas empatias, este partilhar de experiências, estas boas energias, não teria graça nenhuma.
Só não vos disse que depois cheguei à conclusão que a Mimi, que entretanto foi chamada pelo marido que estava sozinho à mesa à sua espera, é Mãe de um grande artista nacional, portuense de alma e coração - mas isso agora não interessa nada. O que interessa é saber se estão a aproveitar as vossas vidas. Estão mesmo Maisenas? Eu confesso que muitas vezes me esqueço que, na melhor das hipóteses, só cá vou estar por mais 50 anos...
 
 
Foi, sem dúvida, uma lição de vida, uma verdadeira empatia à primeira vista.
Sei que com certeza não vai ler isto mas...obrigada Mimi!
 

3 comentários:

  1. Muitas vezes, com o frenesim do dia-a-dia, somos mais espectadores da nossa vida do que atores. Sempre que me lembro que passa tudo tão rápido (quase todos os dias) encho o Baby Boy de beijos bem apertadinhos! A nossa vida está mesmo nas pequenas coisas, está nas pessoas que se cruzam connosco e nos dão lições, motivações, recordações; está no guardanapo giro que colocamos ao almoço, mesmo para uma refeição de 15 minutos; está no raio de sol que sentimos logo pela manhã, apesar de estar muito frio; enfim....está onde nós quisermos!
    Beijinhos Francisca

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  2. Francisca, também sou mãe de dois meninos (o mais velho tem 4 anos), e tal como a Francisca fiquei com um nó ao ler este texto. Infelizmente já não tenho as minhas Avós, mas recordo-as muitas vezes, para não dizer todos os dias. E peço a Deus que os meus Filhos tenham uma vida longa, cheia de saúde e que vivam sempre no Amor recíproco que vivemos todos os dias. Um beijinho para si.

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