quarta-feira, 19 de março de 2014

Três P´s

Tenho, na minha vida, três Pais, todos eles diferentes, todos eles iguais. O Pai do meu Pai, o meu Pai e o Pai dos meus filhos.
O Pai do meu Pai era o brincalhão. Fazia trocadilhos com os nomes. O S. era o Bastião, porque o Se é condicional, e o que é preciso é ter certezas na vida. Bebia cerveja preta às refeições, não gostava de computadores, e não dispensava as suas caminhadas a pé. Andava sempre muito bem vestido e muito perfumado. Durante anos, escondeu dos netos um segredo muito bem guardado: pintava o seu cabelo imaculado. Quando, de repente, o vi de cabelo branco (no dia em que decidiu largar as tintas), apanhei um susto e larguei num pranto! O Pai do meu Pai era forreta mas muito bonzinho, transbordava mimo e carinho. Adorava reunir os netos à mesa, e muitas vezes repetia a sobremesa só para ficar connosco mais tempo. Amava incondicionalmente a minha Avó, e dedicou toda a vida à sua querida mulher. Com os netos aprendeu a ser um querido Avô: à boa maneira portuguesa, foi um Avô à antiga, em beleza. Hoje faz um ano que o vi pela última vez, na sua cadeira, com o pensamento já vazio, mas sempre muito meigo, ainda que com um olhar um pouco frio. Nunca pensei que nunca mais o veria, jamais pensei que aquele dia, fosse o último que passámos juntos. Guardo na memória a sua ternura, o seu Amor que ainda perdura, as suas histórias antigas e a imensa saudade que nos deixou. Até já, querido Avô.
O meu Pai é o meu rochedo. Tem um ar duro por fora,  mas derrete-se todo por dentro. Tem um sentido de humor único, e gosta de mandar piadas secas. Por vezes dou umas valentes gargalhadas, outras vezes já conheço as suas piadas, há mais de 32 anos. Mas a verdade é que onde este meu Pai entra, a galhofa é certa. Tem mau feitio, é certo também. Mas atravessava um deserto para salvar os seus. Gosta de ensinar disparates aos netos, e tem queda para com eles fazer asneira da grossa. Esteve sempre ao meu lado nos dias mais importantes da minha vida, e nunca falhou uma data, um aperto meu, um dia mau. Já não vivo com o meu Pai há quase 13 anos, mas sinto que ele está ali, mesmo no quarto ao lado, cada vez que acordo e me deito. Transmite-me segurança, é a minha âncora. É a bússola que não me deixa perder quando começa a escurecer (apesar de não ter sentido nenhum de orientação). Sempre me foi buscar às noitadas, ou ficava acordado pelas madrugadas, até eu chegar a casa, sã e salva. Tem pena de não estar mais tempo com os filhos, e está há meses a pedir-me para levar o neto ao futebol (sem a Mãe por perto, é certo...) Acho que vou ter que ceder, porque o meu Pai já me deu mil e uma razões para nele confiar, para a vida não temer. Ensinou-me a lutar pela felicidade, e é isso que eu faço, todos os dias da minha vida, sem medo ou qualquer tipo de receio desta minha liberdade. Obrigada por tudo, Pai
E depois há o Pai dos meus filhos. Um Pai dos tempos modernos, que todos os dias me ensina novas maneiras de viver a vida a 4. É muito mais eficiente do que eu, e trata de tudo o que qualquer Super-Mãe faz (excepto escolher a roupa dos miúdos). É capaz de os vestir e de sair com os bebés à rua em  tempo record, e consegue controlar ao pormenor os passos de corrida dos filhos, não havendo o mínimo risco de me deixar preocupada quando não estou por perto. É o grande responsável pela cozinha saudável lá em casa, pelos roteiros dos passeios em família que fazemos, pelos percursos a pé que percorremos, sempre a 4. Adora aventura, às vezes exagera um pouco nos quilómetros a que nos obriga, mas no fim agradeço-lhe o esforço e a adrenalina, porque me ajuda a manter a linha. É louco pelos filhos, e às vezes consegue ser mais criança do que eles. Mas nunca se esquece das regras, da rotina e da disciplina. Ao mesmo tempo que é amigo dos filhos, consegue impor respeito (coisa que eu nem sempre consigo...) É um Pai com P Maiúsculo,  e mesmo que eu não lhe diga isto muitas vezes, quanto mais o tempo passa mais tenho a certeza que foi o melhor Pai que podia ter escolhido para os meus queridos filhos. Obrigada S., do fundo do coração.
São estes os Três P´s da minha vida, cada um à sua maneira conseguiu abanar o meu mundo e sentir-me uma pessoa mais completa, mais feliz, mais cheia.
 
Não tenho um, mas três!
 
 

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